Do fogo à fé

Umas das religiões mais influentes do mundo, a Igreja Apostólica Romana também foi uma das instituições mais poderosas do planeta, e ainda se mantém, com o maior número de adeptos em todo o mundo

Uma das religiões mais poderosas de todos os tempos, tanto no que se diz respeito a sua influência, quando ao seu poder político, o catolicismo é a vertente mais expressiva do Cristianismo e, segundo dados, com o maior número de adeptos em todo o mundo, cerca de um bilhão de seguidores.
A religião católica é marcada por uma rígida hierarquia, onde as paróquias, as dioceses e as arquidioceses estão submetidas ao Vaticano localizado em Roma e que possui suas próprias legislações, como se fosse um estado independente.
 
Seu símbolo máximo é o “Papa”, que possui um governo vitalício e só deixa o papado de outra forma se for por vontade própria, como aconteceu com o Papa Bento XVI. Em ambos os casos o novo papa e eleito por uma votação fechada, a qual nós chamamos de conclave, por um colégio de cardeais. Assim é feito há séculos, contudo deixemos os detalhes “episcopais” de lado e vamos aos fatos que estigmatizou a religião católica e a tornou o centro político e religioso mais influente de todas as eras.

Por mais de dois milênios a religião católica se impôs ao mundo, legitimando seu poder dominador e mostrando ao planeta que seu “deus” único e onipotente era a verdadeira salvação para a humanidade. Marcada por dogmas, sendo estes inquestionáveis, milhares de pessoas foram perseguidas e queimadas vivas pela Santa Sé, convertendo a sua fé esses povos com seu poder um tanto quanto “persuasivo”. Na realidade era o mais primitivo sentimento de autodefesa humana que sustentava o Vaticano: o medo.

No século XVI Lutero propõe uma reforma no seio do catolicismo e na porta do Castelo de Wittenberg prega suas 95 teses sugerindo uma mudança urgente na doutrina da Igreja Católica. O ano era 1517 e nasce então o “Protestantismo". Apoiada por diversos religiosos e governantes europeus, essa espécie de “revolução religiosa” iniciada na Alemanha, estendeu-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. Ameaçada, a Igreja Católica propõe um movimento que ficou conhecido na história como “A Contra Reforma”, um dos períodos mais marcantes e sangrentos da história do catolicismo. Segundo Daniel-Rops (1901-1965), escritor e historiador Frances, "já na segunda metade do século XV, tudo o que havia de mais representativo entre os católicos, todos os que tinham verdadeiramente consciência da situação, reclamavam a reforma, por vezes num tom de violência feroz, e mais frequentemente como um ato de fé nos destinos eternos da 'Ecclesia Mater".

Em 1545, a Igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento estabelecendo entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index Librorum Prohibitorum, com uma relação de livros proibidos pela Igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas, dentre elas a Companhia de Jesus. Outras medidas incluíram a reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato eclesiástico, a reforma das ordens religiosas, a edição do catecismo tridentino, reformas e instituições de seminários e universidades, a supressão de abusos envolvendo indulgências e a adoção da Vulgata como tradução oficial da Bíblia.

A partir daí inicia-se um verdadeiro processo de caça as bruxas, combatendo a heresia e colocando definitivamente a fé católica como única e verdadeira. Tal período foi retratado em “Malleus Maleficarum” (o martelo das feiticeiras), um autêntico manual de “caça as bruxas”, do período renascentista.
Todavia, com os questionamentos “hereges” do monopólio intelectual da Igreja e a crescente valorização das ciências e do homem se colocando como peça central da sua história o cristianismo, mesmo tentando combater esse processo de decadência da sua fé literalmente a “ferro e fogo”, foi perdendo sua força. Contudo, nunca deixou de ser a religião mais seguida do mundo.

Com o Concílio de Vaticano II, no século XX, a Igreja Católica sofreu uma profunda renovação de suas práticas. Tal acontecido deu-se na década de 1960. Nesse evento – que mobilizou as principais lideranças da Igreja – uma nova postura da instituição foi orientada em direção às questões sociais e injustiças que afligiam os menos favorecidos. Essa tônica social acabou dando origem à chamada Teologia da Libertação, que aproximou os clérigos das causas populares, principalmente na América Latina.

Recentemente com a eleição do Papa Francisco e seu discurso de “não se esquecer dos pobres” esses ideais parecem ter sido retomados. Ao contrário de Bento VVI, extremamente conservador, o novo Papa veio para dar uma cara nova ao cristianismo, tendo sido aprovado pelo mundo e o conquistado com sua simpatia. Sem dúvida o cristianismo precisa de uma reforma  urgente, sobretudo o que se diz respeito a sociedade, que a cada dia que passa, parece se perde mais em seus princípios bíblicos medievais. Oremos.