Figura de grande destaque em São Sebastião do Paraíso, Monsenhor Hilário foi padre na paróquia de S. Sebastião por mais de 30 anos. Enfatizando a importância de seguirmos nossos sonhos e lutarmos por ele, ele nos concede uma rara entrevista, para falar um pouco da sua vida e de sua história ao longos desses 95 anos.

Poucas são as pessoas que recebem e abraçam o dom divino, um chamado de Deus para pregar ao mundo o bem ao próximo, o amor, a paz. Não é fácil e Jesus Cristo foi um dos exemplos maiores de como às vezes pode ser difícil difundir a Boa Palavra. No entanto, algumas pessoas nascem com este dom e deixam marcas profundas nas almas dos outros e, mesmo que o mundo seja mau, eles não desistem dos seus ideais. Ideais esses inerentes a vida e a própria alma. Contudo, amar é um dom e como define bem uma das passagens da Bíblia “Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor nada serei”.

Foi com um grande amor à fé e aos ideais de pregar a bondade através de sua mensagem que o Monsenhor Hilário Pardini, umas figuras religiosas mais notórias de nossa comunidade, chegou aos seus 95 anos, mais cheio de vida e ânimo do que nunca. Com mais de 70 anos de sacerdócio, bem humorado, o Monsenhor conta que ser padre foi à realização de sua vida e que se nascesse de novo, nasceria padre. “Mais vida eu tivera, mais padre eu seria. Pena a vida ser tão curta pra tão grande dom”, ele brada.

O dom para o sacerdócio, segundo ele próprio conta, brotou em seu coração quando era ainda um menino, na cidade de Guaranésia, onde nasceu e recebeu de sua mãe, mulher muito devota, a inclinação para a vida religiosa. Presente à missa em todos os domingos, o futuro padre se admirava ao ouvir os sermões que ouvia na igreja e gostava de imitá-los em casa.

De família unida ele revela que a experiência de reclusão no seminário, ainda bem jovem, foi bem difícil e, embora tivesse sofrido pela ausência do afeto da mãe, do pai e dos irmãos, Hilário Pardini fortalecia sua mente e se firmava no ideal de ser padre. “Foi um verdadeiro ‘batismo de fogo’”, traduz a dureza daquele momento. 

Sempre aplicado, Hilário conta com orgulho que na vida acadêmica, que envolvia os estudos de Filosofia e Teologia, buscou a fundo ser o melhor em sua turma. Tamanha dedicação possibilitou a ele conquistas que impressionavam por ser tão jovem. Após ter se formado no Seminário Maior de Belo Horizonte, em 1942, mudou-se para Poços de Caldas, para ser auxiliar do pároco da cidade. Após quatro anos, foi chamado para ser diretor do seminário de Guaxupé, onde ficou quatro anos e meio. Ele conta orgulhoso ter participado da formação de muitos padres. “Eu era diretor e ao mesmo tempo lecionava. Quando não tinha professor era eu que substituía” conta Monsenhor Hilário.

Após este período, o padre foi retirado de suas funções para se dedicar a outro grande projeto, o da construção do novo seminário de Guaxupé, onde hoje está instalado o Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé - UNIFEG. Terminada a construção do Seminário, mudou-se para Paraguaçu, onde assumiu sua primeira paróquia, época em que já tinha 18 anos de carreira; lá ficou por seis anos e depois disto retornou à Guaxupé, onde foi pároco da Catedral por 13 anos. 

A chegada do Monsenhor Hilário a Paraíso se deu em 1980, para substituição do também icônico Monsenhor Mancini, que havia falecido. 

“Fui nomeado pela Provisão Diocesana no dia 24 de junho daquele ano”, ou seja, neste mês, está completando 33 anos de sua chegada a São Sebastião do Paraíso.

Quando chegou aqui, Hilário definiu em seu coração que deveria dedicar-se a parte pastoral e não queria ter outro título ou função que não fosse o de “pastor das almas”, termo com o qual traduz seu ministério aqui na cidade. “Eu queria ser aqui o Pedro da ‘pedra’ e o Paulo da ‘palavra’”, revela.

De fato, o Monsenhor Hilário foi uma pedra de segurança, na qual muitas pessoas puderam se apegar; e a palavra, que com certeza marcou muitas vidas e o tornou uma figura conhecida por seus sermões.

Em suas muitas atribuições, Hilário Pardini foi também diretor da “Rádio Difusora”, onde hoje funciona a “Rádio da Família” e em seu programa, “Lira Evangélica”, que ia ao ar todas as manhãs às 11 horas, dava palestras que falavam sobre a necessidade de gostarmos de nós mesmos, falava sobre o apóstolo Paulo e sobre a Vontade de Deus. Acerca dessa fase marcante de sua vida, ele conta bem humorado que algumas de suas frases ainda são lembradas pelas pessoas. “Outro dia, alguém me disse que nunca mais se esqueceu da frase ‘quanto mais se ferve a água, mais gostoso fica o café’, que eu falei há muitos anos”, recorda.

Para o Monsenhor Hilário, sua relação com Paraíso é a de um verdadeiro filho da cidade e ele fala com carinho da vida que teve aqui, definindo-a como uma terra muito acolhedora, a qual adotou como seu lar e que lhe correspondeu com o título de Cidadão Honorário.

Monsenhor vive sob os cuidados de Célia Alves da Silva, mãe de seu afilhado, do qual fala com muito carinho. Célia trabalha com o Monsenhor desde seus 17 anos, e representa uma figura materna para Monsenhor Hilário. “O difícil é ter um filho com 17 e outro com 95. São dois extremos. O de 95 é difícil fazer parar e o de 17 é muito parado”, conta Célia bem humorada.

De fato, Monsenhor Hilário para seus 95 anos é mais animado que muito jovem! Gosta de passear bastante e de ler. Muito culto nos lembra da importância de se ter um ideal na vida e nos deixa a lição de que quando se tem uma motivação, nada pode nos deter. Ele ensina que “o Espírito Santo é como a chuva. Cai igual para todos, mas produz efeitos diferentes”. 

Assim é a mensagem de amor, de fé e de esperança que pessoas com esse dom da palavra, como o Monsenhor Hilário Pardini, nos passa: a mensagem é uma só, mas produz efeitos diferentes em cada alma que toca!

Por João Gustavo e Rafael Cardoso
Matéria produzida originalmente para a "Revistas Expressão Livre"
 -  Ano 3, Edição 37, Junho de 2013