Conhecida pela sua alta taxa de incidência no século XX, a tuberculose, uma doença infecciosa de evolução crônica causada pela bactéria “Mycobacterium Tuberculosis” - descoberta pelo médico, patologista e bacteriologista alemão, Heinrich Hermann Robert Koch em 1882 - e que ataca principalmente os pulmões, ainda é uma doença que preocupa muito a medicina e que, se diagnosticada tardiamente, pode levar a morte além de sua propagação.

Conforme relata o médico infectologista José Carlos Costa Junior, a doença ainda é um grande problema de saúde pública e vem preocupando autoridades da área. “Embora a taxa de incidência venha diminuindo, a mortalidade ainda é muito alta, principalmente nos casos de coinfecção da tuberculose em pessoas portadoras do vírus HIV. A doença está diretamente relacionada a determinantes sociais”, elucida.

De acordo com dados do boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde no dia 24 de março, data em que se comemorou o “Dia Mundial de Combate à Tuberculose”, nos últimos 10 anos, a incidência de casos de tuberculose no Brasil reduziu 20,2%, passando de 38,7 casos a cada 100 mil habitantes em 2006 para 30,9 em 2015.

Neste mesmo período, a taxa de mortalidade teve também redução de 15,4%. No último ano, a taxa de mortalidade foi de 2,2 óbitos para cada 100 mil habitantes, contra 2,6 registrados em 2006. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil conseguiu atingir as metas dos Objetivos do Milênio (ODM) de combate à tuberculose com três anos de antecedência e, em 2015, aderiu ao compromisso global de redução de 95% dos óbitos e 90% do coeficiente de incidência da doença até 2035.

Apesar dos números positivos, o infectologista José Carlos comenta que os números de casos em homens é o dobro daquele registrados em mulheres, que também tem a doença como uma das principais causas de óbito entre o sexo feminino. Além disto, conforme o médico, uma população vulnerável apresenta taxas de incidência maiores, é o caso da população carcerária, pessoas portadoras da AIDS, indivíduos vivendo nas ruas e pessoal que tem associação com etilismo (alcoólatras).

Segundo o especialista, em São Sebastião do Paraíso também há casos da doença, como na grande maioria dos municípios brasileiros, e a maioria realiza tratamento ambulatorial. “Nos últimos anos notamos um grande número de jovens e pessoas entre 40 e 50 anos com diagnóstico da doença”, ressalta.

O médico comenta que a tuberculose ainda desafia a medicina. “Diferente do que se imaginou nas décadas de 1960 e 1970, de que com uma potente quimioterapia a doença teria um efetivo controle, a tuberculose aumentou em todo o mundo. Em 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a tuberculose como uma emergência global”, destaca o infectologista.

DIAGINÓSTICO E TRATAMENTO

“A pessoa que tem o diagnóstico da doença deve ser muito bem esclarecida sobre os riscos e a importância do tratamento correto, seus familiares próximos devem ser examinados”, alerta o médico.

Conforme o especialista, um dos grandes problemas da tuberculose no século XXI é a resistência da bactéria a medicação. “O diagnóstico precoce e o tratamento correto são as medidas mais eficazes para o controle da doença”, ressalta.

Ainda, conforme o médico, existe um tratamento eficaz distribuído pelo Ministério da Saúde com duração, na grande maioria dos casos, de 6 meses de tratamento. “É fundamental o tratamento correto para evitar recidivas da doença, assim como a resistência do bacilo as drogas usadas”.

TRANSMISSÃO

A transmissão da doença ocorre por vias aérea e na maioria dos casos a partir da inalação de gotículas contendo bacilos expelidos pela tosse, fala ou espirro do doente com tuberculose. O infectologista José Carlos Costa alerta que as pessoas que teve ou tem contato próximo de doentes sem tratamento estarão mais expostas. “Após 10 a 14 dias de tratamento eficaz não ocorre mais a transmissão do bacilo. Todos os contatos de pessoas com pacientes que foi infectado com a doença, por exemplo, residentes na mesma casa, devem ser investigados, assim como contatos próximos, seja no trabalho ou até mesmo a população carcerária”, completa o médico.
SINTOMAS

O principal sintoma da tuberculose é a tosse por mais de três semanas, com ou sem secreção. Qualquer pessoa com esse sintoma deve procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico. Além desse sintoma, outros como febre baixa, geralmente à tarde, suor noturno, falta de apetite, perda de peso, cansaço, dor no peito e hemoptise (sangramento das vias respiratórias), pode também ser um indicativo da doença.

Como já ressaltou o infectologista, José Carlos, são mais vulneráveis à doença as populações carcerárias, moradores de rua - estes devido à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e às condições específicas de vida -; além das pessoas vivendo com o HIV, que representam 9,7% dos diagnósticos confirmados de tuberculose em 2015.

TUBERCULOSE EM MINAS

De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerias (SES-MG), em 2015 houve cerca de 4.039 notificações de pessoas contaminadas com a doença, dos quais cerca 212 vieram a óbitos. Ainda, conforme a Secretaria de Saúde, a região metropolitana de Belo Horizonte concentra, aproximadamente, um terço dos casos em todo o Estado.

Dados epidemiológicos revelam também que a taxa de abandono do tratamento em 2014 foi de 10,6%, considerada elevada. Em função disso, para conscientizar a população a respeito desta doença, a SES-MG fez o lançamento da campanha “A Tuberculose tem cura e o tratamento é gratuito”, sendo a proposta central sensibilizar a comunidade sobre a importância da prevenção e do tratamento correto.

TESTE RÁPIDO

Em 2014, o Ministério da Saúde implantou no país uma rede de diagnóstico da doença, a Rede de Teste Rápido para Tuberculose (RTR-TB). Denominado “Gene Xpert”, o teste detecta a presença do bacilo causador da doença em duas horas e identifica se há resistência ao antibiótico rifampicina, usado no tratamento. Segundo dados, foram distribuídos 160 equipamentos para laboratórios de 92 municípios, em todas as unidades da federação. Os municípios escolhidos notificam, anualmente, cerca de 60% dos casos novos de tuberculose diagnosticados no país.

O investimento do Ministério da Saúde para estas ações foi de cerca de R$ 10 milhões e, para monitorar a implantação desta rede, mensurar a realização dos testes e auxiliar a vigilância epidemiológica da doença, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose publicou, em dezembro de 2015, um relatório em que estão descritas as principais atividades desenvolvidas pelos Programas de Controle da Tuberculose (nacional, estadual e municipal), laboratórios municipais e centrais no primeiro ano de implantação da RTR-TB, os avanços e os desafios, além do monitoramento da produção do período.

Para 2016, o Ministério da Saúde já adquiriu 70 novos equipamentos e 250 mil testes que serão distribuídos, de acordo com critérios técnicos e operacionais, para municípios brasileiros. Com a medida, o percentual de diagnóstico da doença será ampliado para cerca de 75% de cobertura de casos novos.