Lar São Vicente de Paulo - Foto TV Sudoeste
Os princípios católicos mais difundidos em todo o mundo sempre foram à valorização do amor a Deus e ao próximo. Todavia, ao longo dos séculos a Igreja Católica Apostólica Romana foi se afastando desses conceitos e se fortalecendo, principalmente, como uma importante Instituição política, monopolizando, principalmente, o conhecimento. Seu autoritarismo se perpetuou por séculos a fio; foi na Idade Média, porém, que se sentiu seu verdadeiro poder dominador. É fato que toda e qualquer religião é controlada pelos homens, e nós, seres humanos, somos falhos em inúmeros aspectos. Vez ou outra surge alguém com esse “nobre” sentimento cristão de perpetuação do amor ao próximo e marca na própria história da humanidade suas influências; a Sociedade São Vicente de Paulo, indubitavelmente, é uma dessas marcas que nos mostra o verdadeiro valor do “eu cristão” e nos faz questionar nosso papel social frente ao catolicismo e sobre o que faz realmente as religiões.

Fundada em Paris, em 1833, por Antônio Frederico Ozanam, a Sociedade Vicentina tem como patrono o santo São Vicente de Paulo, conhecido por sua piedade ao pobre e que dizia que “jamais devemos perder de vista o divino modelo! É preciso ver Jesus Cristo no pobre, e ver no pobre a imagem de Cristo”. Baseados no princípio da caridade ao próximo, a Sociedade São Vicente de Paulo se fortaleceu como uma instituição independente, sem perder seu caráter católico e obediência às autoridades eclesiásticas, buscando sempre estar em “sintonia” com a Santa Sé. O principal objetivo da sociedade é dar assistência às pessoas mais necessitadas, buscando sua edificação espiritual através da caridade. Ozanam dizia: “Que fazer para sermos verdadeiros católicos? Fazer o que agrada mais a Deus: Socorramos nosso próximo como fazia Jesus Cristo e coloquemos nossa fé sob a proteção da caridade. Vamos aos pobres!”.

Aberta a qualquer um que queira prestar serviços a quem mais precisa, os pobres, a Sociedade Vicentina encontra-se espalhada no mundo todo e está presente em diversos países das Américas e da Europa, como França e Inglaterra. No Brasil existe a maior concentração de vicentinos do mundo, sendo Minas Gerais a maior concentração do nosso país, segundo conta Leonardo Borges de Souza, presidente do “Lar São Vicente de Paulo”. Ele ainda revela que em todo o mundo existem cerca de aproximadamente 156 associações, espalhadas em inúmeros países.

Aqui, a comunidade vicentina presta serviços aos idosos que não podem estar sob os cuidados da família ou que estejam completamente sozinhos. Todavia, não é apenas o cuidado para com os idosos que torna alguém um vicentino, é o “apoio e ajuda a comunidade em geral”, enfatiza Leonardo. Mais conhecido na cidade como “Asilo São Vicente”, a entidade em si é uma obra unida à própria Associação Vicentina e que está presente na cidade desde 1933, como vila vicentina, mas somente em 14 de outubro de 1957 é que se estabeleceu como uma instituição oficial. “O asilo é uma parte jurídica ligada à Associação São Vicente de Paulo. Não é a maior parte da associação. É uma ramificação, podemos dizer”, esclarece.

A “Vila Vicentina” era uma comunidade com diversas casas que ficavam ao redor de onde hoje se estabelece a Instituição do Lar São Vicente. Era uma espécie de colônia e possuía cuidados bem diferentes dos de hoje. Com o aumento de idosos e a necessidade de mais acomodações, na gestão de Sebastião Caetano da Silva construiu-se um pavilhão que comportasse cerca de 30 pessoas, isso contribuiu para que se fosse desmanchando as casas que, já muito velhas, não compensando suas reformas. Leonardo recorda ter entrado na diretoria do Lar São Vicente de Paulo no termino do mandato de Sebastião Silva, como tesoureiro e Paulo Queiroz como presidente, dando continuidade ao projeto. “Na época as honras da inauguração do novo pavilhão foram feitas pelo próprio Sebastião. Embora tivéssemos dado continuidade ao projeto, a iniciativa das obras foram dele”, relembra.

Leonardo ainda conta que na Sociedade Vicentina de Paraíso há cerca de aproximadamente 120 membros ativos, e destaca a importância de alguns como Carmo Paschoini e do já falecido Amadeu Guidi. “Amadeu tinha uma filha que morava no Canadá, a Ana Maria Guidi, que em uma visita resolveu ajudar o asilo com uma parte da renda de um “carnaval brasileiro” que organizava lá mesmo, para ajudar os hospitais”, conta Leonardo Souza. Segundo ele, com parte da renda foi possível fazer mais ampliações no asilo, mas foi difícil administrar as obras devido à alta inflação, que na época chegou a 100%.

Vivem atualmente no asilo 72 idosos, que contam com a colaboração de funcionários que dão assistência em tempo integral aos moradores e de médicos que fazem visita esporádicas para ministrar remédios e cuidados especiais aos idosos. Embora sejam tratados com extrema dignidade e atenção, Leonardo revela que a maioria desses idosos preferiria estar vivendo com a família, mas que por motivos, na maioria das vezes financeiros, acabam indo parar ali. “Acho isso natural. Quem não gostaria de estar vivendo ao lado da família?”, destaca. Sobre o papel da família, ele conta que hoje em dia os familiares são mais presentes na vida de seus idosos, mas que nem sempre foi assim. “Os familiares tinham medo de deixá-los aqui e depois ter que buscar de volta, e desapareciam. Mas, hoje, graças a Deus, essa perspectiva mudou e muito”. No asilo esses idosos recebem cuidados de extrema qualidade e as sextas-feiras, com uma parceria entre a Unimed e Acqua Sport Natação, é doado a esses idosos um dia de lazer na própria Acqua Sport, para fugirem um pouco da rotina maçante.

No entanto, apesar de contar com parte da aposentadoria dos moradores e ter a isenções de alguns impostos, os custos com o Lar São Vicente ainda são muito altos, tendo que contar ainda, não somente com o apoio de vicentinos da cidade, mas com a própria comunidade paraisense. Leonardo ressalta a importância das festas beneficentes, como a própria “festa do asilo”, que se tornou uma tradição na cidade, para a obtenção de recursos que são revertidos para melhoramentos do próprio recinto e para arcar com gastos de comida e remédios para esses idosos. Neste aspecto vemos o quanto é necessário e importante a colaboração e participação do cidadão paraisense para o Lar São Vicente de Paula. As ações desses colaboradores do asilo refletem o ápice do amor humano; e esse amor e cuidado que tem como recompensa o bem estar dos nossos idosos merece nossa atenção e iniciativa. “Qualquer um pode contribuir, seja financeiramente, com doações e até mesmo dando atenção a esses idosos. Eles gostam de conversar!”, ressalva Leonardo Souza.

Por João Gustavo
Matéria produzida originalmente para a "Revistas Expressão Livre"
- Ano 3, Edição 38, Julho de 2013